Na realidade são pessoas que têm um ascendente Xokleng, há três ou quatro gerações passadas, e algumas dessas pessoas pertencem à seção Votor.

Não deixa de chamar a atenção o fato de que, entre os Xokleng (que interpreto como os Caingang do mito de Borba) existe um "group" - termo utilizado por Henry ([1941] 1964:175) - cujo nome é Kainlê e cuja marca é um círculo, marca idêntica à da seção Votor entre os Kaingang atuais, e que são da metade KAIRU. Por outro lado, assim como entre os Kaingang existe a seção Wonhétky, pertencente à metade KAMÉ, de marca comprida, entre os Xokleng existe um "grupo" denominado Wanyekí, cuja marca, porém, é redonda, "scattered all over" ou seja, espalhado em todo o corpo (Henry [1941] 1964:175). Poderíamos sugerir a hipótese que os Votor teriam vindo dessa aliança entre Kaingang e Xokleng. Os Votor seriam Xokleng agregados por casamento à metade de marca redonda isto é aos KAIRU. E os Wonhétky (seção Kaingang) e os Wanyekí (grupo Xokleng) tenham a mesma procedência, ou seja, vêm de um mesmo povo escravizado tanto por Kaingang como por Xokleng, ou seja os Kurutu.
Reconhecendo as relações assimétricas na sociedade Kaingang, com as posições relativas das seções Votor e Wonhétky, e somando-se isso ao fato de que para os membros de tais seções tolera-se a endogamia de metade (ver Capitulo adiante sobre o tema), parece aceitável sugerir que essas seções foram assimiladas por processos diferentes, a saber: por aliança, no primeiro caso, e por cativeiro, no segundo. A prática de manter cativos é registrada por Borba (1904:62) e por outros autores que conheceram cativos de grupos de língua Tupi-Guarani entre os Kaingang. Um relatório de um Inspetor do SPI, datado de 1911, informa ter encontrado três "botocudos" escravizados há quatorze anos pelos Kaingang do cacique Veigmon, na região do médio Tibagi (norte paranaense) [fonte] .