Esse fato encontra uma explicação quando entendemos que o pertencimento à seção Votor é herdado. Quanto à categoria dos péin , trata-se de uma escolha feita no momento da nominação, ou mesmo pode ser atribuída a alguém por um dos kuiâ (xamã), no momento da realização do Kiki . Logo, a qualquer pessoa se pode atribuir, por motivos diversos, uma função cerimonial como péin (com o respectivo nome), mas a ninguém se pode atribuir o pertencimento à seção Votor ou Wonhétky. Os Wonhétky são, para alguns, considerados como o par simétrico dos Votor. Isso aparece nas pinturas e também em alguns depoimentos que consideram que os membros dessas duas seções seriam também parceiros matrimoniais preferenciais entre si. Os Wonhétky podem cumprir funções ligadas à cura e às advinhações. Alguns são kuiâ e rezadores. Baldus afirma que os "iendkiby" (= nhétkymby , nome da pintura dos Wonhétky) não podiam ser enterrados no cemitério (1947a:81). Ouvi sobre isso uma explicação da Kaingang Niagtâe: que os Wonhétky não podem ser enterrados no cemitério "porque ele come os outros" . Pelo contexto - da proibição do enterramento no cemitério - Wonhétky seria um espírito canibal que devoraria, provavelmente, os outros espíritos dos mortos. Na verdade não consegui uma resposta satisfatória pois, além do assunto ser tabu, a restrição já não é colocada em prática, porque os Kaingang atuais enterram também os Wonhétky no cemitério.
Um dos rezadores de Palmas, da seção Wonhétky, confirmou o fato, informando ainda que, os Wonhétky não podiam ou não podem brincar com os KAIRU, por essa razão seu avô trocou seu primeiro nome, que era Katâe , para Wagtu , para que ele pudesse "entrar no cemitério". Nesse caso o nome parece ser um atenuante, a pessoa não deixa de ser o que herdou mas em função do seu novo nome, passa a ser râ réngrê , pessoa com duas pinturas: uma de sua condição de origem (Wonhétky, por exemplo), e outra do nome que recebeu.
