Quanto ao pinheiro e ao cedro, mencionados por Nimuendaju, é provável que haja ocorrido uma inversão na anotação daquele autor, pois é consensual, entre os Kaingang, que o pinheiro é KAMÉ e o cedro é KAIRU. Em minha experiência de campo pude verificar que, se perguntarmos aos Kaingang sobre cada animal ou pássaro daqueles presentes nos mitos, respondem rapidamente classificando-os numa metade ou outra, ficando em dúvida quanto a um ou outro animal que os mitos não mencionam, ou afirmando não saber a metade a que pertencem. Eles explicavam, evasivamente, que " decerto eles não foram ao Kiki ", o que significa que não foram marcados com os sinais clânicos e, portanto, não foram classificados. Apesar de eventualmente não classificarem algum animal em uma das metades (o que é a mesma coisa que classificá-lo nas categorias ror ou téi ), a diferença entre seres compridos e achatados é tão importante entre os Kaingang, que sua língua possui verbos distintos para o ato de carregar um objeto ror ou téi. E, de maneira geral objetos, plantas e animais tendem a ser classificados em KAMÉ ou KAIRU, o que corresponde às informações de Nimuendaju.
A importância dos conceitos Kaingang ror e téi é fundamental para fins comparativos com as pinturas rituais de outros Jê. Enquanto as pinturas dos Xavante e Xerente, como as dos Kaingang, são diferenciadas em redondas e compridas, os Krahó, Suyá e Apinayé opõe listas horizontais a listas verticais que, se pensadas como baixo e alto, seriam equivalentes aos termos Kaingang ror e téi . |